Morto pela carne vermelha
Um caso comprovado de morte por causa da carne vermelha é a saborosa história contada pelo médico e escritor Blau de Souza no jornal Sul Rural. O personagem é seu Bibi Costa, “figura muito querida da comunidade lavrense”. Seu Bibi consumia carne diariamente desde as primeiras horas da madrugada, acompanhando café e chimarrão. De nada adiantavam as advertências para que modificasse sua dieta.
Vezes sem conta, o estudante de Medicina, e depois médico, Honor Teixeira da Costa, preocupou-se com a quantidade de carne gorda que ingeria seu pai. Deu-lhe muitos conselhos, asseverando que a carne vermelha terminaria por matá-lo. Seu Bibi criou os filhos e foi conhecendo netos e bisnetos pela vida afora na sua rotina de fazendeiro, dividido entre a estância e a casa na cidade.
Com sabedoria, ouvia o filho e imaginava os males que sua dieta faria para a maior parte dos mortais, mas seus exames continuavam bons e ele a se sentir muito bem. Sobreviveu ao filho médico, tragicamente falecido, e à dona Doca, sua companheira por mais de 60 anos. Desapareciam os amigos de antigamente, mortos a cada ano com os mais diversos achaques, mas vivia a velhice sem lamentos, imaginando-se um cerne de tronco grosso de madeira de lei. Sem perder a alegria, continuava comendo carne...
Encontrava estímulo ao participar das atividades diárias e foi assim que resolveu ir para fora e carnear uma vaca. Cedo, trouxeram uma ponta de gado para que ele escolhesse a res a ser carneada. A decisão foi rápida e enquanto a vaca era sangrada, o fogo esperava pela matambre. Seu Bibi instalou-se próximo do fogo e passou a comer nacos da porção mais gorda daquela carne obtida logo abaixo do couro. Os campeiros continuavam sua faina de bem carnear e iam pendurando a carne num galho de árvore, sem maiores cuidados. Ocorre que a vaca era gorda, a carne pesada, a árvore um umbu e o banco do seu Bibi estava colocado debaixo da árvore, na continuação do galho usado para pendurar a carne. A carneação ia terminando quando aconteceu um estalo surdo e se partiu o galho do umbu.
A carcaça da vaca recém carneada, então, caiu por cima do seu Bibi, ferindo-o gravemente e, por fim, matando-o aos 95 anos de idade. Blau de Souza lembra a ironia perversa:
“Sem faltar com o respeito, tenho certeza de que seu Bibi riria muito da maneira como morreu. De certa forma, por vias tortas e não menos diretas, seu Bibi veio a confirmar os vaticínios do seu filho médico: morreu por causa da carne”.
Anonymus Gourmet
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